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Os hospitais são grandes consumidores de energia. Funcionam 24h/dia e 365 dias/ano. Por isso, as instalações AVAC de um hospital devem ser muito eficientes e garantir também um excelente nível de conforto.
Esta premissa foi aplicada no projeto e construção do Hospital de Mollet, que disponibiliza 26.000 m2 à atenção hospitalar de uma população de 150.000 habitantes nas proximidades de Barcelona, e que incorporam um teto radiante como sistema principal de transferência de calor com os utentes.
Esta decisão foi tomada tendo em consideração que os tetos radiantes permitem compensar os ganhos e perdas de calor a partir de um elemento terminal e decorativo como é um teto falso, sem ruídos, reduzindo o consumo de energia e o espaço necessário para instalações de ventilação, ao mesmo tempo que se simplifica a sua manutenção.
Neste artigo demonstra-se a metodologia de cálculo, a execução e exploração do teto radiante do Hospital de Mollet durante os primeiros cinco anos de funcionamento, cuja coordenação com os sistemas de ventilação e produção geotérmica mediante um sistema de regulação, baseado na norma EN 15232, permitiram reduzir as emissões de CO2 do edifício em mais de 800 ton/ano, e evitando cerca de 600 intervenções do pessoal de manutenção nas unidades de hospitalização para operações de manutenção preventiva
![teto-radiante-hospital-mollet-16 teto radiante hospital mollet](https://climatizacaoradiante.pt/blog/wp-content/uploads/2020/05/teto-radiante-hospital-mollet-16.png)
Hospital de Mollet
Arquitetura
O Hospital de Mollet foi projetado em 2005 pelo gabinete de arquitetura Corea & Moran, que concebeu um hospital horizontal de 26.000 m2 divididos por cinco pisos. O edifício é composto por duas grandes zonas de passagem retangulares para a circulação de visitantes e residentes, unidas por cinco edifícios que albergam, entre outras, as áreas funcionais de hospitalização, cirurgia, urgências, imagiologia e hemodiálise.
Desde a fase inicial do projeto, os arquitetos tinham muito claro que pretendiam projetar um edifício que contribuísse para o tratamento dos pacientes e, simultaneamente, fosse amigo do ambiente, o que os levou a procurar soluções sustentáveis: a luz natural, coberturas verdes e aquecimento através de tetos radiantes; três aspetos que contribuem significativamente para o conforto dos utentes melhorando a qualidade da sua estadia no hospital.
Com um investimento de 66 milhões de euros, o Hospital de Mollet começou a ser construído em 2008 e iniciou a sua atividade em 2010. Atualmente, trabalham cerca de 700 profissionais no âmbito dos cuidados de saúde, para uma população de referência na ordem dos 150.000 habitantes.
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Vista frontal e zonas ajardinadas entre edifícios
Instalações térmicas
As instalações térmicas, projetadas pelo gabinete de engenharia Enginya, incluem três fontes térmicas: caldeiras, chillers ar-água e bombas de calor água-água. Estas últimas podem trabalhar em modo de recuperação de calor ou através dos furos geotérmicos, em função das necessidades do edifício e da capacidade dos furos.
![teto-radiante-hospital-mollet-4a teto radiante hospital mollet](https://climatizacaoradiante.pt/blog/wp-content/uploads/2020/05/teto-radiante-hospital-mollet-4a.png)
Da esquerda para a direita, chiller ar-água, chiller água-água e caldeiras
Os três sistemas de produção de energia térmica trabalham para um coletor principal, a partir do qual diversas bombas de circuitos secundários alimentam as unidades de tratamento de ar, a 4 tubos, e o sistema de teto radiante a 2 tubos.
O teto radiante trabalha a temperaturas diferentes das de produção, pelo que existe um controlo de temperatura da água de impulsão e um change-over automático inverno/verão (4T-2T), de modo a que cada circuito de teto radiante possa alterar o seu estado de funcionamento segundo as necessidades térmicas em cada momento.
As unidades de tratamento de ar introduzem nos locais ar de renovação tratado termicamente e desumidificado, com capacidade para combater as cargas latentes de cada local.
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Esquema de princípio
O teto radiante no Hospital de Mollet
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Imagem termográfica do teto radiante em funcionamento
O teto radiante é composto por placas de gesso-cartonado do tipo GKCS da Giacomini, com um circuito hidráulico incorporado que permite a circulação de água quente ou fria, segundo as necessidades do local.
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Painel GKCS
Este tipo de painel oferece rendimentos térmicos ótimos para potências próximas dos 60W/m2 em arrefecimento (DT12ºC) e 65W/m2 em aquecimento (DT 15ºC).
![teto-radiante-hospital-mollet-6](https://climatizacaoradiante.pt/blog/wp-content/uploads/2020/05/teto-radiante-hospital-mollet-6.jpg)
A distribuição dos painéis radiantes varia por tipologia do local e são agrupados de modo a que se obtenham zonas livres para instalação das luminárias e outros equipamentos. Os painéis radiantes ligam-se entre si mediante tubos e acessórios tipo push-fitting. Os circuitos de cada quarto são ligados a coletores de distribuição localizados em zonas acessíveis.
Os coletores de teto radiante são agrupados estrategicamente em circuitos independentes de caraterísticas similares, que alimentam locais com a mesma orientação solar. Para cada zona é possível controlar a mudança inverno/verão, a temperatura da água e a temperatura do ar de ventilação.
![teto-radiante-hospital-mollet-7](https://climatizacaoradiante.pt/blog/wp-content/uploads/2020/05/teto-radiante-hospital-mollet-7.jpg)
Painéis radiantes GKCS num quarto tipo
Controlo da instalação
O Hospital de Mollet conta com um sistema de regulação e controlo integrado num BMS, que permite gerir o funcionamento de todas as instalações mediante estratégias baseadas na EN 15232 – Eficiência energética dos edifícios. Métodos de cálculo das melhorias da eficiência energética mediante a aplicação de sistemas integrados de gestão técnica de edifícios.
Assim, cada local climatizado dispõe de um termostato com sondas de temperatura e humidade relativa ligado a um controlador com capacidade para a gestão do sistema e integrando o funcionamento do sistema radiante e o sistema de ventilação.
Controlo da emissão de calor em cada espaço
O controlo da emissão de calor em cada espaço climatizado realiza-se mediante uma válvula tudo/nada instalada no próprio coletor, de modo a que a válvula permaneça fechada quando a temperatura do local alcança a temperatura de set-point.
Os set-points nos diferentes locais climatizados são fixados pelos responsáveis da instalação (normalmente a 21ºC e a 25ºC) e o utilizador pode modificar a temperatura num diferencial de +/- 2ºC.
![teto-radiante-hospital-mollet-8](https://climatizacaoradiante.pt/blog/wp-content/uploads/2020/05/teto-radiante-hospital-mollet-8.jpg)
Controlo da temperatura num espaço climatizado
As temperaturas dos locais mostram-se agrupadas no sinóptico da planta, a partir do qual se pode aceder ao controlo de todos os parâmetros associados.
![teto-radiante-hospital-mollet-9 teto radiante hospital mollet](https://climatizacaoradiante.pt/blog/wp-content/uploads/2020/05/teto-radiante-hospital-mollet-9.jpg)
Ecrã do BMS, consultas externas
Parâmetros de controlo da instalação do teto radiante
A instalação de teto radiante é controlada especificamente através de sub-estações denominadas SUBCENTRALES TR, que incluem:
- Válvulas de 2 vias: FRIO/CALOR para a alteração I/V. Dispõem de encravamento eletromecânico para assegurar que apenas se ligam ao circuito de água fria ou ao de água quente. Nunca aos dois em simultâneo.
- Válvula de 3 vias para o controlo de temperatura da água. Esta válvula abre ou fecha o by-pass para manter a temperatura de impulsão sob controlo.
- Bomba circuladora. Apenas funciona quando há solicitação num determinado espaço.
As sub-centrais de teto radiante agrupam-se em cada módulo do piso técnico, e é possível controlar parâmetros como o modo I/V, a paragem/funcionamento da bomba circuladora sob solicitação, a temperatura ótima de impulsão da água ou a temperatura de impulsão do ar.
![teto-radiante-hospital-mollet-10 teto radiante hospital mollet](https://climatizacaoradiante.pt/blog/wp-content/uploads/2020/05/teto-radiante-hospital-mollet-10.jpg)
Mudança automática Inverno/Verão
A alteração I/V de cada sub-central depende da temperatura máxima e mínima dos espaços que estão em modo ON e dos parâmetros de mudança.
As temperaturas dos espaços variam entre 1 e 2ºC. A mudança de estação dá-se quando os valores MAX e MIN superam os limites de funcionamento:
De INVERNO e VERÃO:
Quando a temperatura ambiente mais baixa (TMIN) é inferior à temperatura de mudança (TC-INV) e a temperatura ambiente mais alta (TMAX) é inferior à temperatura de mudança (TC-VER), a sub-central permanece em modo INVERNO. (1). Esta situação, mantém-se inclusivamente se TMAX e TMIN se encontram entre limites (2) ou fora deles (3). Unicamente quando TMIN é superior TC-INV e TMAX é superior a TC-VER, a sub-central muda para o modo VERÃO (5).
De VERÃO a INVERNO:
Ao arrefecer as dependências, mantém-se o modo em (5) e (6), e altera para modo INVERNO quando TMIN é inferior a TC-INV e TMAX é inferior a TC-VER.
![teto-radiante-hospital-mollet-11 teto radiante hospital mollet](https://climatizacaoradiante.pt/blog/wp-content/uploads/2020/05/teto-radiante-hospital-mollet-11.jpg)
Diagrama do processo de mudança de inverno (1) a Verão (4) e de novo a inverno (7) em função das temperaturas interiores máxima e mínima
As mudanças do modo de funcionamento traduzem-se na abertura ou fecho das válvulas de duas vias, que ligam os circuitos de teto a dois tubos com o circuito primário a 4 tubos.
![teto-radiante-hospital-mollet-12 teto radiante hospital mollet](https://climatizacaoradiante.pt/blog/wp-content/uploads/2020/05/teto-radiante-hospital-mollet-12.jpg)
SUB-CENTRAL TR em modo verão
Temperatura ótima da água
Os sistemas radiantes requerem determinadas temperaturas específicas de trabalho e devem estar de acordo com as especificações indicadas na EN-15232.
A temperatura da água no inverno é calculada com base na temperatura mais desfavorável (a do local com temperatura mais baixa, Tint MIN) e de acordo com uma curva proporcional:
Se Tint MIN é inferior ou igual a 20ºC, a temperatura de impulsão será de 40ºC
Se Tint MIN é superior ou igual a 25ºC, a temperatura de impulsão será de 25ºC
Para valores intermédios estabelece-se o critério de proporcionalidade.
A partir desta definição, é o local com temperatura inferior o que determina a potência do sistema. Quando todos os locais se encontram a temperaturas próximas de 21ºC, reduz-se a temperatura de impulsão, as perdas de calor no transporte e as oscilação térmica no interior.
No verão, a temperatura da água oscila entre 15 e 19ºC e estabelece-se mediante o seguinte critério:
T CALCULADA = Tdewpoint MAX + FS
Ou seja, o local com a temperatura de condensação máxima é o que estabelece o valor da temperatura calculada. FS é um fator de segurança (-1.5 ºC).
A temperatura da água tem um valor de cálculo mínimo de 15ºC, e quando a zona climatizada apresenta uma temperatura de condensação superior a 19ºC se auto-exclui do sistema para não prejudicar as restantes zonas.
Se todas as zonas apresentam TR superiores a 19ºC, a bomba circuladora deixa de funcionar como forma de proteção, sendo necessário melhorar as condições de tratamento do ar.
Gestão do ar de ventilação
As temperaturas exteriores de Mollet del Valles oferecem cerca de 1000h/ano em que a energia do ar exterior é inferior à do ar interior, de modo que é possível beneficiar-se do arrefecimento gratuito através do ar exterior (free-cooling) em várias situações.
Enquanto no INVERNO, o ar primário introduz-se a temperatura fixa, no VERÃO, estabelece-se um critério de proporcionalidade, enviando-se ar mais frio quando as condições interiores o requerem, e menos frio quando não é necessário.
![teto-radiante-hospital-mollet-13 teto radiante hospital mollet](https://climatizacaoradiante.pt/blog/wp-content/uploads/2020/05/teto-radiante-hospital-mollet-13.jpg)
Análise do funcionamento durante os 5 primeiros anos, economia de energia, redução de emissões de CO2 e operações de manutenção
O Hospital de Mollet iniciou a sua atividade em 2010, e desde essa altura que se realiza uma gestão e controlo dos gastos energéticos, que permitiu, nestes anos, efetuar diversas intervenções que facilitaram a otimização dos processos e uma redução no consumo de energia do edifício.
Assim, as primeiras intervenções tiveram como objetivo otimizar as temperaturas de funcionamento. Na maioria das zonas com teto radiante, é suficiente uma temperatura da água de cerca de 30ºC, o que permite reduzir as perdas de energia no transporte e também melhorar a eficiência dos equipamentos de produção.
A temperatura de funcionamento na produção de água fria também foi adaptada às necessidades reais, passando de 7ºC para 10ºC, com consequentes melhorias na eficiência dos equipamentos de produção.
O sistema de gestão técnica centralizada permitiu estabelecer melhores horários de funcionamento, melhorar a operacionalidade e aplicar as indicações da EN-15232 relativas ao cálculo das temperaturas de funcionamento em referência às condições interiores.
Todas estas medidas permitiram ajustar as necessidades, reduzir o consumo de energia e as emissões de CO2 em cerca de 830 TonCO2/ano, segundo relatórios dos responsáveis pela exploração do edifício.
Isto significa que o consumo de energia no Hospital de Mollet é cerca de 305 kWh/m2, 23% inferior à média em Espanha (418 kW/hm2 de acordo com informação disponibilizada pelo CATSALUT), com uma economia anual próxima dos 200.000€.
Ao mesmo tempo, a substituição de unidades terminais tipo fan-coil pelo teto radiante evitou a realização de mais de 600 operações de manutenção relacionadas com a substituição de filtros. Esta situação traduz-se numa economia direta de cerca de 10.000€/ano, mas também uma redução de incidências por interrupção de serviço.
![teto-radiante-hospital-mollet-15 (1) teto radiante hospital mollet](https://climatizacaoradiante.pt/blog/wp-content/uploads/2020/05/teto-radiante-hospital-mollet-15-1.png)
![sergio](https://climatizacaoradiante.pt/blog/wp-content/uploads/2020/05/sergio.jpg)
AUTOR
Sergio Espiñeira
Director Técnico na Giacomini España SL
sergio.espineira@giacomini.com | LinkedIn
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